Apresentação

A proposta do seminário é debater a flexibilização presente nas novas formas de produção, nas novas tecnologias e na organização do trabalho que privilegiam o jovem como o trabalhador ideal, propenso à inovação, às mobilidades exigidas pelas mudanças espaciais e temporais dos lócus de trabalho, assim como às fragilidades dos vínculos contratuais. Essa nova cultura do trabalho se imbrica com culturas juvenis que tem no consumo seu objeto de desejo e no trabalho criativo uma perspectiva de realização pessoal, alimentadas por ideologias de autonomia e empreendedorismo, frente a uma rigidez anterior do trabalho assalariado e regular. Entretanto, essa realização é restrita e assume diversas configurações decorrentes de recortes de classe. Para discutir as distintas formas de inserção/exclusão do mercado de trabalho dos jovens, privilegiamos, por um lado, as ocupações/profissões socialmente valorizadas, vinculadas a novas tecnologias e aos novos modelos organizacionais flexíveis, nos quais o conhecimento e a “imaterialidade” dos produtos se constituem em fator estruturante. Em linhas gerais, seriam os trabalhadores das “indústrias criativas”, sejam elas tecnológicas e/ou artísticas, marcadas por uma diversidade de contratos de trabalho, de prestígio e valorização identitária, que tem na inovação quase que um sinônimo de juventude. A segunda está relacionada a atividades menos glamourosas e mais precárias, vinculadas a novas formas de produção formal (com temporalidades distintas) na qual os jovens são preferidos como: cadeias de fast-food, supermercados, lojas de departamentos; e atividades informais no comércio ambulante, vendas em domicílio, atividades ilícitas e criminais, nas quais vive-se o imediato, sem perspectivas de continuidade ou mesmo de futuro e em que o consumo é percebido como forma de inserção. Englobam jovens com baixa escolaridade e qualificação (embora nem sempre), nas margens ou excluídos do mercado de trabalho formal. Em comum pode-se falar de culturas juvenis, nas quais o trabalho assume valorização e representações simbólicas diferenciadas, frente aos grupos de referência, como a família, amigos e conhecidos. Ocupações desejadas e/ou ocupações possíveis para uma juventude na qual o consumo de bens materiais e simbólicos tornam-se marcadores de inserção/exclusão social, e reproduzidas pelo discurso do “novo espírito do capitalismo”, instável, flexível, móvel.

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